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03/09/2023 10h11

2024 e o "Brasil profundo"

Paulo Schultz Paulo Schultz
Professor

 

Existe uma expressão, elaborada já há algum tempo, chamada" Brasil profundo" .
 
Se refere ao Brasil do interior, dos grotões , das pequenas cidades afastadas dos grandes centros urbanos, e que vive cultural e socialmente numa condição de conservadorismo.
 
Um conservadorismo relacionado à manutenção da ordem social em moldes desiguais , hierárquicos ou autoritários, e à extrema valoração da família em seu formato e função tradicionais.
 
Se refere também a uma grande parcela de brasileiros que vivem nas periferias dos grandes centros urbanos.
À margem, trabalhando e sobrevivendo na informalidade, expostos à violência cotidiana, por tráfico, milícias, organizações criminosas, e facilmente vulneráveis às igrejas evangélicas neopentecostais.
 
Estes, por sua condição de ausência ou insuficiência de amparo do Estado, no sentido de cidadania e dignidade, carregam um sentimento anti- institucional, que margeia e dribla as leis e regramentos da sociedade.
 
Vem deste Brasil profundo a porção nacional que, ou tendo seu conservadorismo imantado pelo bolsonarismo, ou tendo nele um espelho antissistema que lhe pareça dar proteção e vazão à raiva que possuem do Estado e das leis, colaborou pesadamente para dar a Bolsonaro a votação enorme obtida no ano passado, apesar da derrota.
 
Pois é o comportamento desse Brasil profundo que se deve compreender e nele tentar incidir nas eleições municipais do próximo ano.
 
Eleições municipais costumam ter , majoritariamente, foco nas coisas que envolvem a vida cotidiana das pessoas - posto de saúde, iluminação pública, transporte coletivo, estradas interioranas, pavimentação de ruas, etc.
 
Mas junto com essa pauta pragmática de preocupações e prioridades, temos também outros aspectos - ideológicos, culturais, sociais, que influenciam na opção de voto .
 
Claro que nos grandes centros urbanos, além das questões locais há uma influência mais forte das questões nacionais, da política nacional, da percepção boa ou ruim que as pessoas têm do governo federal.
 
Ao passo que, no interior, nos pequenos municípios, essa importância das questões nacionais fica menor na cabeça da população, em comparação com as questões locais. Menor, mas existente.
 
Extremamente necessário ganhar espaço dentro do Brasil profundo.
 
Para consolidar a democracia no país, para desimantar parte do Brasil profundo do sintoma doentio que é o bolsonarismo, para trazer a parcela possível deste povo todo para um outro projeto de pais que está sendo proposto pelo governo Lula.
Um projeto de país que quer inclusão, cidadania e oportunidade, e que deve estar presente também nas gestões locais, nos municípios.
 
E para isso é essencial que o PT, que outras forças de esquerda, que outras forças que tenham compromisso com pautas progressistas e com a democracia apresentem candidaturas locais, disputem espaço com as forças do conservadorismo.
 
A eleição municipal de 2024 não é somente uma questão de consolidar democracia e estabelecer bases para que o governo Lula possa acontecer de maneira mais consistente com apoio de parte majoritária da população.
 
É uma eleição que deve questionar, sacudir o conservadorismo do Brasil profundo.
Questionar e se propor a mexer nas estruturas de poder locais.
 
É tarefa dura porque implica bater de frente com os donos do poder - do poder econômico, do poder das ideias predominantes que subjugam, condicionam e imbecilizam, e, muitas vezes, do poder da violência e da opressão.
Mas é o movimento necessário.
 
É preciso sacudir as estruturas locais de poder, questionar concepções que prendem a mentalidade de parte do Brasil profundo num conservadorismo arraigado de décadas e até séculos, e que impede a melhoria de vida de boa parte da população que vive sob essa conformação social.
 
É preciso enfrentar, por exemplo, forças locais que detém o poder na esfera pública local, nos meios de comunicação locais, nas principais instituições e entidades locais, e que formam uma teia que enreda uma população inteira, que é posta a pensar e funcionar de acordo com os interesses de um pequeno grupo que enriquece, domina , subjuga, forma opinião e molda concepções de sociedade a seu favor.
 
Invariavelmente são as forças do conservadorismo local, que se aliam ao conservadorismo de âmbito nacional
( como o bolsonarismo, por exemplo) enredando populações numa teia de concepções atrasadas de como uma sociedade deva funcionar, algo que perpassa gerações e mantém o conservadorismo no poder, no concreto da vida, e nas suas mentes.
 
2024 e o ano de ir para dentro do Brasil profundo , questionar estruturas locais de poder, enfrentar o conservadorismo que aprisiona e atrasa, ganhar corações e mentes para um novo projeto de sociedade, que começa no plano local e conflui para o todo do país.
 
É tarefa duríssima, mas precisa ser feita.
 
 
 

 

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